Parte 2
O Além e a Sobrevivência do Ser
O observador, o pesquisador imparcial que deseja formar juízo seguro, muitas vezes se acha em presença de duas opiniões igualmente falaciosas. De um lado, a condenação em bloco. Dir-lhe-ão: no psiquismo tudo é fraude e embuste; ou então: tudo é ilusão e quimera. De outro lado, a credulidade excessiva. Encontrará pessoas que admitem os fatos mais inverossímeis, mais fantásticos; outras que se entregam às práticas espíritas sem estudos prévios, baldas de método, de discernimento, de espírito de crítica, ignorantes das causas várias a que se podem atribuir os fenômenos psíquicos.
Esses talvez sejam indivíduos de boa-fé. Mas há também os embusteiros e os charlatães. O charlatanismo se tem freqüentemente apropriado dos fatos psíquicos para os imitar e explorar. Cumpre estar sempre em guarda contra o cortejo dos falsos mágicos, dos falsos médiuns ou dos que, possuindo faculdades reais, não hesitam contudo em trapacear, havendo oportunidade. Ao observador importa precaver-se dos míseros industriais que não trepidam em mercadejar com as coisas mais respeitáveis. Entretanto, os casos fraudulentos em nada podem alterar a realidade dos fatos autênticos.
Não há dúvida de que as trapaças, as falsas materializações, as fotografias arranjadas desacreditam o psiquismo e entravam a marcha desta ciência nova, que lhe retardam o vôo e o desenvolvimento normal. Mas não sucede sempre assim com todas as coisas humanas? As mais sagradas nunca estiveram ao abrigo das falcatruas dos intrujões e dos impostores.
Indubitavelmente, diante da incerteza, da confusão que resulta de tantas opiniões contraditórias, muitos homens hesitarão em palmilhar esse terreno, em se entregar a um estudo atento da questão. O que o primeiro exame, superficial, neles produz é a desconfiança, a hostilidade. Quase nunca vêem da ciência psíquica senão os lados vulgares, as mesas girantes e outros fenômenos da mesma natureza, conservando-se-lhes desconhecidas ou ignoradas as manifestações de caráter elevado, os fatos de real valor. É que neste mundo o que é belo e grande se dissimula; só pode ser descoberto por esforços perseverantes, enquanto que as coisas banais e ruins disputam a evidência em torno de nós. Ou então os fenômenos citados parecerão maravilhosos, incríveis aos que jamais experimentaram e muitos, em presença das narrações que se lhes fazem, porão os espíritas no rol dos alienados.
Tal a primeira impressão, que, cumpre reconheçamos, não é favorável. Entretanto, quem estudar seriamente a questão será impressionado por um fato: é que, ao cabo de meio século de críticas amargas, de ataques violentos e até de perseguições, o Espiritismo se mostra mais vivaz do que nunca. Pode-se dizer que ele se há consideravelmente desenvolvido, pois que já não se contam as revistas, os jornais, os grupos de experimentação que se prendem a esta ordem de idéias, em todos os pontos do globo. Tudo quanto hão querido tentar contra ele tem falhado. As pesquisas científicas e os processos tendenciosos lhe resultaram até aqui favoráveis.
Importa ainda que se reconheça uma coisa: se o Espiritismo encontrou tanta dificuldade para vencer as oposições conjuradas é que a experimentação neste campo se apresenta prenhe de embaraços. Exige qualidades de observação e de método, paciência, perseverança, que estão longe de ser predicados de todos os homens. As manifestações espíritas obedecem a regras mais sutis, a condições mais delicadas e mais complexas que as de qualquer outra ciência.3 Aos experimentadores foram precisos longos anos de estudo e de observação para chegarem a determinar as leis que regem o fenômeno espírita.
Como a pouco vimos, o Espiritismo já agora se apóia em testemunhos científicos de alto valor, em experiências e afirmações de homens que ocupam elevada posição na Ciência e cujas obras fortes, cujas vidas íntegras e fecundas merecem o respeito universal. E o número desses testemunhos cresce dia a dia. Daí o podermos dizer: se os fenômenos espiríticos não passassem de ilusão e quimera, como teriam conseguido prender, durante anos, a atenção de sábios ilustres, de homens frios e positivos, quais W. Crookes, Lodge, Zöllner, Lombroso? E, em grau menos alto, porém não de somenos importância, homens como Myers, Aksakof, Maxwell, Stead, Dariex e outros?
Pouco a pouco, graças às investigações e às experiências desses cientistas, a explanação prossegue e as afirmações em favor do Espiritismo se renovam e multiplicam.
Eis por que consideramos um dever espalhar por toda parte o conhecimento dos fatos, por isso que projetam luz nova, luz poderosa sobre a nossa natureza real e sobre o nosso futuro. É preciso, afinal, que o homem aprenda a se conhecer melhor, a ter consciência das energias que possui em estado latente. Conformando-se à lei suprema, ele deve trabalhar com coragem e pertinácia para se engrandecer, para crescer em dignidade, em saber, em critério, em moralidade, porquanto nisso está todo o seu destino!